Por Katia Gomes da Silva
Numa dessas saídas com meu pai, ele estava a falar dos antigos bailes de interior os quais ele participava em sua mocidade, isso por volta da década de 1950. Ele me dizia “aquilo que era música, aquilo que era dança. Tudo arrumado, com muito respeito, não era essa bagunça de hoje em dia. Eu gostava de tocar instrumentos e dançar até o dia amanhecer. Os bailes e as festas eram preparadas com semanas de antecedência, com muita comida, e as mulheres se preparavam passando banha nos cabelos.” Fora a parte da banha, todo o resto me encantava, ficava a imaginar esses bailes em minha mente. Meu pai sempre “arranhou” em alguns instrumentos musicais, talvez seja por isso que eu admiro tanto os músicos, a questão do ouvido para a música e principalmente quanto à disciplina. Também deve ser uma das razões que me fizeram querer cantar em coral e fazer dança de salão. Meu pai não entendia direito sobre o coral, mas ficou animado com a dança, perguntou-me se eu já tinha aprendido marcha, rumba etc, eu expliquei que eles ensinavam outros ritmos, falei do bolero e ele logo questionou de que tipo e listou alguns, dos quais só me recordo o nome bolero mambo. Disse-lhe que era bolero, bolero, ele respondeu apenas um “sei”. Acho que não o convenci muito e mostrei minha quase total ignorância no assunto. rs
Um pouco mais de conversa e ele começou a contar sobre as enormes casas da roça e dos seus tipos e estilos. Ele quis saber se eu conhecia a casa de sapê, contei que só conhecia pela música. Depois ele comentou sobre os animais que ele convivia, falou-me de uns bichos que nunca ouvi o nome e ele percebeu minha surpresa. Ele logo suspira “essa vida da cidade...”.
Mais tarde, ele avistou uma árvore e perguntou-me o nome. Eu disse que não sabia. Meu pai quase que indignado me indaga: “minha filha, pra que você estuda tanto se não sabe nada das coisas da vida?”. Só pude responder: “É pai (detalhe que ele não tem nem o primário completo), o Sr. tem toda a razão...”
Kátia,
ResponderExcluirLendo seu texto e suas últimas frases,lembrei-me de uma canção de Paulinho da Viola:..."As coisas estão no mundo,só que eu preciso aprender..."
Acho que você conhece a técnica,seu interesse pela vida é bem nítido.
É tão bom conversar com nosso pai,não é? Um beijo e o meu carinho de sempre.Cida
Kátia:
ResponderExcluirLembro-me de tempos atrás onde havia um resentimentozinho, mesmo que pequeno, ao Dad. Eu sempre falava e meio que pedia que você revisse seus conceitos em relação a ele. Deu certo! Nas coisas que você contava de seu pai, sempre o vi, dentro do seu universo, uma pessoa cheia de sabedoria e que valia a pena (todos valem) e eu não errei, isso é que é legal! Ele é cheio de jeitos, trejeitos, manias, modos, porem é uma pessoa que sabe das coisas. Quando você me contou essa passagem é que vi o quanto ele é sábio. Hoje fico contente em vê-la crescida, ávida de saber e de te mostrar que você é muito parecida com ele e que bom que você reviu seus conceitos e que hoje vocês são pai e filha.
Beijos e parabéns pelo texto
Cida, a eterna curiosidade em saber das coisas, em conhecer o mundo, faz parte de todos nós. Conversar com nossos pais e pessoas mais velhas vai mostrando toda a riqueza da vida, que muitas vezes não fazemos idéia da dimensão. Mesmo os saberes mais simples... Obrigada pela dica da música. Adorei!
ResponderExcluirSoninha, vc melhor do que ninguém sabe desses sentimentos que passaram por mim e ainda hoje me vejo em horas que me seguro e tento compreendê-lo para não fazer mau julgamento. Ele é uma pessoa incrível, embora teimoso, e é um poço de sabedoria e de conhecimentos. Cada conversa é um aprendizado. Da vontade de ficar com um gravador a postos para não perder uma só palavra... rsrs Hoje em dia, vejo o quanto herdei dele, muitos defeitos até, mas esse é o sabor da vida, o que recheia a todos nós, né? Bjs