sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Conversas com meu pai

Por Katia Gomes da Silva
Numa dessas saídas com meu pai, ele estava a falar dos antigos bailes de interior os quais ele participava em sua mocidade, isso por volta da década de 1950. Ele me dizia “aquilo que era música, aquilo que era dança. Tudo arrumado, com muito respeito, não era essa bagunça de hoje em dia. Eu gostava de tocar instrumentos e dançar até o dia amanhecer. Os bailes e as festas eram preparadas com semanas de antecedência, com muita comida, e as mulheres se preparavam passando banha nos cabelos.” Fora a parte da banha, todo o resto me encantava, ficava a imaginar esses bailes em minha mente.
Meu pai sempre “arranhou” em alguns instrumentos musicais, talvez seja por isso que eu admiro tanto os músicos, a questão do ouvido para a música e principalmente quanto à disciplina. Também deve ser uma das razões que me fizeram querer cantar em coral e fazer dança de salão. Meu pai não entendia direito sobre o coral, mas ficou animado com a dança, perguntou-me se eu já tinha aprendido marcha, rumba etc, eu expliquei que eles ensinavam outros ritmos, falei do bolero e ele logo questionou de que tipo e listou alguns, dos quais só me recordo o nome bolero mambo. Disse-lhe que era bolero, bolero, ele respondeu apenas um  “sei”. Acho que não o convenci muito e mostrei minha quase total ignorância no assunto. rs
Um pouco mais de conversa e ele começou a contar sobre as enormes casas da roça e dos seus tipos e estilos. Ele quis saber se eu conhecia a casa de sapê, contei que só conhecia pela música. Depois ele comentou sobre os animais que ele convivia, falou-me de uns bichos que nunca ouvi o nome e ele percebeu minha surpresa. Ele logo suspira “essa vida da cidade...”.
Mais tarde, ele avistou uma árvore e perguntou-me o nome. Eu disse que não sabia. Meu pai quase que indignado me indaga: “minha filha, pra que você estuda tanto se não sabe nada das coisas da vida?”. Só pude responder: “É pai (detalhe que ele não tem nem o primário completo), o Sr. tem toda a razão...”

domingo, 21 de agosto de 2011

A casa dos saberes

Por Katia Gomes da Silva
As chaves fecham e abrem o livre desejar,
As cortinas sabem de desejos
que eu nunca pensei em contar.


Livros da estante acusam de não terem sido lidos,
As gavetas denunciam passados mantidos,
O guarda-roupa me alerta que há sentimentos a serem vestidos.


No banho, a água me bebe
E percebe
A agonia de problemas não resolvidos,
O fogão aquece sonhos perdidos,
A geladeira mantém pensamentos esquecidos.


Nos lençóis, repousam milagres abandonados,
O alarme desperta medos silenciados.


Os cd's entoam a voz da consciência,
O sofá senta as decisões com veemência.


Sob a mesa, estão contas vencidas de um futuro incerto
As janelas refletem a sombra do amor, que de perto,
Clama a paixão prometida.
A porta vigia a busca da solução, da melhor saída.


O ventilador refresca idéias inutilizadas,
A tv apresenta vontades acabadas.


O rádio narra notícias distantes do vizinho ao lado
A cama inflama e procura o corpo do amado.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CRIADO-MUDO

De: Mário Prata (do livro "Minhas Tudo")

Tudo começou quando resolvi me mudar do décimo para o quarto andar, aqui mesmo, neste edifício da alameda França. Um carrinho de supermercado seria o suficiente. Queria fazer lá embaixo um lar, já que isso aqui virou um vício. E, como todo vício, tesão! Lá no quarto andar, tem 4 apartamentos. Eu não conhecia ainda os vizinhos quando o fato se deu. Passei o dia levando coisas lá para baixo. Há dois dias faço isso ajudado pela Cristina. Uma das últimas viagens e lá ia eu com a Cris ao lado, descendo pelo elevador. Carregávamos o criado-mudo. O criado-mudo tem uma gavetinha. Quando a porta se abriu, tinham duas famílias esperando. Meus vizinhos. Pai, mãe, crianças e até uma avó. Foi quando eu estendi o braço para me apresentar como o novo vizinho que tudo aconteceu. E foi muito rápido. Muito. Quando eu tirei a mão do movelzinho para cumprimentar aqueles que agora são meus vizinhos, a gavetinha deslizou. Eu ainda tentei uma gingada com o corpo pra ver se evitava a catástrofe, mas não adiantou. A filha da puta estava indo para o chão, lisa como quiabo. Estava indo para o chão com tudo dentro. E não existe nada mais indiscreto que uma gavetinha de criado-mudo de um homem que mora sozinho. Ou mesmo que não more. Ali você vai jogando coisinhas, papéis. Coisas, enfim. Coisas que só têm um destino na vida: a gavetinha do criado-mudo. Entre a danada escapar do móvel e esparramar tudo pelo chão, não devem ter sido nem dois segundos. Mas estes dois segundos foram sofridos. Neste pedacinho de tempo tentei, em vão, me lembrar do que era que tinha lá dentro e, conseqüentemente, toda a vizinhanca ia ver. Além da Cristina. Não deu outra. A gaveta caiu de quina e tudo voou. E voou tudo de cabeça prá cima, tudo querendo se mostrar. Ar livre. Há quanto tempo aquilo tudo não via a luz do dia, já que ficavam debaixo do abajur lilás? E não ficou tudo amontoadinho, não. O material se esparramou legal pelo hall. Diante do que vi no primeiro bater de olhos, a ideia foi pular em cima e cobrir tudo com o corpo até todo mundo sumir dali. Sim, na gavetinha do criado-mudo a gente joga tudo. Pelos meus cálculos, devia ter coisas ali dos últimos cinco anos. Que, é claro, eu não saberia dizer. Eu não tinha ideia do que é que estava indo para o chão e aos olhos da vizinhanca estupefata. Um pedaço da minha vida estava ali, no chão, sujeito à visitação pública. Uma vergonha. E o pior é que não dava para pegar tudo de uma vez.Teve pilha que rolou escada abaixo. Moedinhas rodopiavam sem parar, fazendo aquele barulhinho. A primeira coisa que a Cristina recolheu foi um par de brincos douradérrimos. Que não eram dela. E eu não ia explicar ali que eu não tinha a menor idéia de quem fossem. Podia estar ali há cinco, seis anos. As crianças olharam para três camisinhas e deram-se sorrisos cúmplices. Não foi bem este o olhar da Cris. Aquele pequeno despertador quebrou o vidro. Estava parado às 10 e 10 do dia 23, sabe-se lá de que mês ou ano.Três edições da Playboy Velhas. Uma daTiazinha. Constrangimento. Prá minha sorte, bem ao lado caiu a História da Filosofia, de I.Khlyabich. E o livro daquela jovem namorada do Sallinger, do Apanhador no Campo de Centeio. Amenizou um pouco. Trata-se de um masturbador de campo de pentelhos. E as camisinhas eram de 98, tava escrito lá. Limpou um pouco a barra. Um pouco. Sim, por outro lado, mostrava que desde 98 que eu... deixa prá lá.Tinha o menu da minha aula de culinária de março. Naquele dia aprendi a fazer crepe de pancetta e brié, com a professora Bia Braga, junto com o Frei Betto, aluno também. Tinha procurado tanto o Guia de Acesso Rápido do celular. Tava lá. Agora eu ia aprender a apagar os telefones vencidos da caixa. Meu Deus, o que é aquilo no pé do garoto? Viagra! E o filho da puta pegou e mostrou para o pai que me olhou com pena, com dó: tão jovem e... Tive que dar explicações: - Hehe, é o Jair, que é do 103, psicanalista, amostra grátis, aí. Tem dois. Já ia dar uma explicação da experiência que tinha tido com o que não estava mais ali, mas achei que os pais não iriam ouvir de bom grado, diante das crianças. Viagra é a maior sujeira, posso te garantir. Acho que não convenci ninguém. Cris, com os alheios brincos na mão, escondeu o Viagra. Vexame total. Mas isso era só o começo da minha ida esparramada no chão de mármore.
- a conta da compra do computador que eu dei para a minha irmã;
- duas pilhas Duracell que jamais saberemos se estão boas ou já usadas. Esse
problema de pilhas soltas me enlouquece;
- sabe aquelas moedinhas de orelhão que não funcionam mais? Várias;
- uma foto minha com a atriz Manoella Teixeira, abraçados na porta do Ritz (isso
foi há dois anos, fui logo explicando);
- uma cartela de Lexotan, uma de Frontal e uma de Zoloft. Pronto, os vizinhos não
teriam mais dúvidas. Um louco deprimido se aproximava;
- quatro canetas BIC que eu duvido que ainda funcionem;
- uma capinha de celular que eu comprei há uns quatro anos e não serviu;
- uma caneta dessas de marcar texto, aquela amarela, sabe? Seca, é claro;
- um tubo de Redoxon, vencido há várias gripes;
- um lápis sem ponta, aliás, dois;
- um papelzinho com um telefone que jamais saberemos de quem é;
- outro papelzinho com um telefone (procurei tanto... Agora não vai mais adiantar);
- um benjamim;
- um tubo (suspeitíssimo) de Hipoglós;
- mais uma cartelinha (quase vazia) de Frontal;
- um disquete de computador sem nada escrito nele. O que pode ter aqui?;
- um par de óculos escuros que nunca foram meus;
- umas cinco ou seis chaves que nunca saberei que portas abrir;
- dois tubos de KY, que quem sabe o que é pode imaginar o meu ar de sem jeito. E o cara do 43 levava jeito de saber, pela olhadinha que deu para a esposa que ficou
vermelhinha. Ela devia gostar de KY;
- um livrinho mandado (e escrito) por um leitor, com o nome Ser Gay é Ser Alegre. Como explicar isso de joelhos?;
- e, para encerrar o meu derrame, um papel em branco com um beijo de batom vermelho, bem no meio. Tentei dizer que era da minha afilhada, Maria Shirts, mas não colou. Fui recolhendo aquilo tudo, aqueles pedaços da minha vida e colocando de novo dentro da gavetinha. E me levantei. Entramos em silêncio no apartamento, certo de que ia começar uma nova vida ali. Mas logo cheguei à conclusão de que a gente nunca começa nada, a gente continua.Ajeitei o criado-mudo ao lado da cama. Fiquei olhando para o indiscreto móvel que eu achava mudo. Mas que, em dez segundos, contara cinco anos da minha vida.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Difícil

De: Hozana Beatriz Leite Cabral (uma amiga)

Por que mesmo nem sempre querer é poder?
Por que a pressa consome o tempo?
É tão bom poder dizer "liberdade para viver"
Mas isso corresponde geralmente a tempo perdido.
A vontade é de relaxar e filosofar,
Sentar e falar por horas e horas sobre a natureza, sobre o que se sente, sobre a vida,
Mas isso também corresponde a "perda de tempo"
Mas que tempo é esse que não nos permite viver?
É o tempo das responsabilidades
O tempo dos estudos
O tempo que prende ao invés de libertar.
As obrigações estão postas, a opção única é cumpri-las.
A vontade é de crescer,
Não só nessa academia intelectual,
Mas crescer nessa vida que ninguém tem a fórmula exata de como utilizar.
Eu quero crescer em espírito,
Quero crescer e simplesmente...
Ser.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Amor e Musica

De: Fábio Ramos

Ao longo da minha vida tenho presenciado muitos tipos de amores.

Amores platônicos, amores avassaladores, amores frios, amores carinhosos, amores alegres, amores tristes, amores sem amor...

Tantos tipos e de tantas maneiras...

E eu como musico vejo que a vida imita a arte. Acho muito mais correto dizer que o amor se assemelha a musica do que a qualquer outro tipo de coisa.

O amor é o reflexo perfeito da musica.

Tem pessoas que são como os pianos... Passam a vida sem se ligar muito a ninguém. Eles tocam sozinhos e às vezes fazem um dueto, tocam com orquestras. Mas pra eles não é tão necessário alguém pra complementar. E assim eles passam a vida... Tocando em muitas sinfonias, concertos, shows. Mas no fundo estão sempre sozinhos. Egoísmo? Autosuficiência? Talvez um pouco dos dois. O importante é saber se ele está feliz com a sua musica ou se precisa de outro instrumento pra completá-lo.

Tem pessoas que são como violões. Podem tocar sozinhos, mas normalmente preferem ter alguém pra completá-los. Eles podem tocar uma musica sem precisar de ajuda de outros instrumentos. Mas seu som não fica tão gracioso como deveria. Falta brilho, falta algo. Falta uma voz ou um instrumento pra fazê-lo chegar até os céus.

Tem pessoas que são como os instrumentos de percussão. São alegres, espontâneos. Trazem alegria aonde vão. Mas não são tão felizes se não tiverem um cavaco, um violão ou até uma cuíca pra deixar a sua presença mais irradiante, mas bela.

Tem pessoas que são como os violinos e os saxofones. Seus sons são lindos, melodiosos, sexy. Muitas vezes sozinhos causam grande emoção e inspiração. Mas que no fundo seriam muito mais virtuosos com um piano ao seu lado. Um violão, ou talvez até mesmo um contrabaixo acústico.

É isso que as pessoas não entendem. Que a musica é bela, é sensível, assim como o amor. Não pode ser quebrada essa harmonia.

Muitas vezes vemos Violinos tocando com outros violinos. Fica bonito. Mas falta algo. Não se completam. Nem sempre as mesmas afinidades significam que haverá harmonia.

Muitas vezes vemos Pianos com pandeiros. Fica bonito, dá pra fazer uma musica. Mas parece que não encaixa bem. Não causa o efeito que deveria.

E assim é o amor. Vemos pessoas muito parecidas que não se completam e vemos muitas pessoas opostas que até parecem ter sintonia, mas depois descobrem que não era aquilo que elas esperavam.

Agora definir que instrumentos ficam bem uns com os outros é uma tarefa difícil. Exige saber o repertorio de cada instrumento. O gosto musical. E o que ele espera produzir sonoramente.

A nossa tarefa é descobrir que instrumentos somos e achar um instrumento que possa completar nosso som e compor uma linda musica que traga emoção e vida pra quem escutar.

Isso não significa que não possamos passar algum tempo tocando sozinhos... Às vezes não existe nada mais belo que um piano tocando Sonata ao Luar. Assim como um violino tocando Meditação de Thais. Mesmo sem acompanhamentos...

Mas assim é o amor. Uma eterna canção. Onde haverão solos, harmonias complicadas, duetos, melodias complexas e muitas vezes melodias simples e que trazem muita emoção. Às vezes existirão orquestras e às vezes um singelo solo de uma triste trompa ecoando dentro de um teatro qualquer.

E assim prossegue cada instrumento. Ora fazendo duetos. Ora tocando com orquestras. E muitas vezes tocando sozinhos numa noite escura. O importante é não deixar o instrumento parar de produzir sua melodia. Afiná-lo de vez em quando, comprar novos acessórios e nunca, jamais deixar de tocá-lo. O fim de cada instrumento só o destino poderá dizer.

Espero que nenhum instrumento possa terminar jogado dentro de um velho armário empoeirado ou em alguma parede como decoração. Que ele possa tocar trazendo harmonia, amor, luz e felicidade pra quem o ouvir. E que ele pare de funcionar dessa forma. Tocando com beleza e magia suas últimas notas. Que ele possa trazer emoção até o seu último momento como criador de sentimentos.

Disponível no link: http://confissoesdeumsaxofonista.blogspot.com/2009/12/amor-e-musica.html 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Amor - procura-se (há recompensa)

Por Katia Gomes da Silva
Quanto mais o tempo passa e eu conheço as pessoas, mais profundamente ou mais pessoas mesmo, percebo que a variedade é infinita. Pensando nisso, fica cada vez mais claro que existem pessoas pra todos os tipos no mundo, o lance da tampa certa pra panela, sabe? Existem pessoas que gostam de outras que sejam ciumentas, ou que sejam grudentas. Tem gente que não suporta. Tem gente que gosta de gente independente, outros preferem as dependentes. Tem gente que gosta de pessoa resolvida, outros gostam de gente problemática. Sério! Existem pessoas que gostam... rs E por aí vai.

Todos os meus amigos sabem que eu acredito no amor, apesar de ainda não o ter encontrado. Fico me imaginando sofrendo por amor, porque afinal amar é sempre sofrer, concordam? Algumas amigas ficam me dizendo que o AMOR não existe, que as pessoas se gostam, podem até se apaixonar e tal. Tem outras que já viveram e falam que não querem mais repetir, correm do amor, porque sofreram demais.

Conforme eu vou então conhecendo as pessoas e vendo que elas são diversas e procuram essa diversidade também, me confirma que estou certa na minha esperança do amor. Apenas o tal “cara certo” ainda não apareceu. O tal que seria o interessante, o admirável, mas não necessariamente o perfeito.

A gente se ilude e se desilude com muita facilidade, não sei se é devido à carência do mundo. Porque está visível que o mundo está carente, apesar de não quererem admitir isso. As pessoas estão com uma grande urgência de serem ouvidas. Às vezes fico impressionada com isso, com essa carência toda. Todo mundo só quer atenção, mas tem gente chata que não dá nem pra gente dar o mínimo de atenção, porque senão a gente se arrepende rapidinho (tenho uma em mente nesse exato momento... rsrs)

Portanto, acredito na existência do amor para todos. O grande dilema consiste em encontrá-lo, pois podemos, sem querer, deixar passá-lo e não reconhecê-lo, não ter investido, ou termos nos fechado de tal maneira que impossibilitou sua notoriedade, não estar à disposição para amar e ser amado(a). Podemos estar procurando em lugares errados, nos perdendo por aí e etc.

Nem sempre estar acompanhado, seja um namoro, casamento ou qualquer outro tipo de relacionamento, significa que já encontramos o amor. Muitas vezes nos conformamos ou optamos por determinados casos pelos nossos diversos medos, o da solidão principalmente. Até essas pessoas devem ter crença no amor. Não há garantia de encontrar o par perfeito, mas a possibilidade é real.

Então pessoas, não percam a esperança e estejam de olhos atentos!