A História, essa com “H” maiúsculo,
está precisando sentar no divã e ter várias sessões de psicanálise. Ela está
com vários traumas e assuntos mal-resolvidos. Está precisando analisar e
reavaliar seu passado para minimizar algumas crises do presente. Assim, ela verá
que o futuro desejado não é utópico, ou continuará com essa sensação do impossível
se não estiver disposta a discutir seus fantasmas do passado.
O presente está do jeito que está,
porque assim foi construído antes. É claro que a vida e o tempo possuem
autonomia. Há a causalidade do passado, mas não é uma ligação direta de consequência
previsível, às vezes o que se dá é exatamente o contrário, uma resposta inversa
à sequência esperada. Isso tem a ver com essa autonomia do desenrolar da vida. No
entanto, ainda há a relação direta com os fatos que sucederam.
A História precisa entender que
as coisas não são tão naturais do jeito que ela imagina. Ela é responsável
pelas atitudes e ações tomadas. Ela só poderá avançar para um período mais
justo quando compreender que essa naturalização foi uma estratégia de perpetuação
de situações e manutenção de determinada ordem. Isso tem atrapalhado a
possibilidade de conscientização dos processos para que venham a acontecer transformações
e rupturas.
Se a História fizer um esforço
pra se lembrar, verá que sua situação atual é muito recente, em termos históricos
mesmo. Se ela recordar, verá quantas reorganizações e quantas mudanças ela
passou. Saberá, então, que outros futuros são possíveis, pois outros passados
também foram.
Se a História se esforçar para
reconhecer seu passado, verá quantos sujeitos ela não escutou ou desumanizou.
Se a História se repensar, verá
que ela nunca foi História, verá que ela sempre foi histórias, assim em “h” minúsculo
e no plural. Ela já está se percebendo dessa maneira, já está tendo avanços na
terapia da vida temporal. Ela já está assimilando o fim da grande narrativa. Na
sua multiplicidade, que pode parecer confusa para alguns, mas que está mais
clara do que nunca para outros, ela encontrará novas situações e relações de
viver o mundo. Com isso, sendo mais DEMOCRÁTICA...